23 maio 2006

Uma pergunta saltou-me no cérebro como um grão de milho acabado de fritar. POP.

Será que as pessoas que amam ou já amaram conseguem ao observar um par de namorados saber distinguir se eles se amam, como consegue o corredor amador, intuir o vencedor ao assistir uma maratona, ou como consegue o tipo que aprendeu a tocar guitarra perceber se o guitarrista de uma qualquer banda sabe tocar?

22 maio 2006

Tenho dias que eu sou muito eu

Este fim de semana revi o Before Sunrise (julgo não estar a exagerar) pela 4ª vez, desde 1995 e testemunha há que me viu em pranto silencioso no final do filme. E porquê? Porque a adolescente imbecil de tão romântica que me habita sentiu-se inexplicavelmente triste por nunca lhe ter acontecido nada assim dentro do género.

E porque o pessimismo e cinísmo da jovem mulher que não é tão estupidamente romântica, como a sua antecessora É claro que os dois não vão encontrar-se... lutava interiormente com a tal adolescente ingénua que insistia no oposto Claro que vão! E sem saber como, a pessimista ganhou; a garotita rendeu-se e eu lá soltei uma avalanche de lágrimas. Eu a pequena por ter sido derrotada e eu a graúda por ter derrotado a miúda.

17 maio 2006

Todos os Caminhos levam ao Meu Amanhã


Não fui em quem inventou... Foram Lenine e Dudu Falcão. E eu vejo e revejo-me, com os olhos que eu queria existenciais, que há verdades cantadas que embalam e fazem dissolver a pressão ao limite do nosso vagar.

"Eu já me perguntei se o tempo poderá realizar meus sonhos e desejos, será que eu já não sei por onde procurar ou todos os caminhos dão no mesmo e o certo é que eu não sei o que virá só posso te pedir que nunca se leve tão a sério nunca se deixe levar, que a vida é parte do mistério, é tanta coisa pra se desvendar.

Por tudo que eu andei e o tanto que faltar, não dá pra se prever nem o futuro, o escuro que se vê quem sabe pode iluminar os corações perdidos sobre o muro e o certo que eu não sei o que virá, só posso te pedir que nunca se leve tão a serio, nunca se deixe levar que a vida, a nossa vida passa e não há tempo pra desperdiçar."

(Todos os Caminhos - Letra de Lenine e Dudu Falcão)

15 maio 2006

1º Mandamento da Lei de BR

Não invocar a palavra “amor” em vão.
Assim sim:

Caso verídico II

Antes de continuar, quero jurar pelas alminhas que a conversa que se segue é autêntica e que eu, abençoada por um ouvido esquerdo - de tísica, bem melhor que o direito -, tive a oportunidade de a ouvir na íntegra.
Ainda cá não a tinha transcrito porque não queria abrir precedentes ao usar o palavrão que usou uma das intervenientes, mas Teve Mesmo Que Ser (LC, em homenagem ao teu post Ver e ouvir o quotidiano).
#1: Atão, tas boa? Ó tempo que num te bia. Tás diferente!
#2: Toue, fui à Nanda fazer madeixas… Sabes como é, às bezes é preciso mudar de bisual.
#1: Num é isso. Estás é mais gorda, mulher.
#2: Olha, tu tás com'o costume: sempre a mesma merda.
(silêncio)
#1: E os teus meninos, estoum benhe?
Não consegui ouvir o resto da conversa. O riso ecoava demasiado alto dentro da minha cabeça.

13 maio 2006

Happy birthday Miss President

Happy birthday to you...
Minha amiga AR:
As estradas e os rios e as estrelas e os caminhos que se cruzam levam-nos sempre a algum lado. Tu és o meu algum lado. Tenho-te desenhada na palma da mão e guardada dentro da caixa que esconde outra caixa mais pequena que guarda outra caixa ainda mais pequena e que põe a salvo uma ainda mais pequena. Lá dentro está a minha alma abrigada por matrioshkas coloridas e nela eu guardo-te a ti.
BR

12 maio 2006

A hipocrisia do defeito

Entrevistador: Diga, por favor, dois dos seus maiores defeitos/pontos a melhorar.
Entrevistado: Crio mau ambiente de trabalho porque falo mal de toda a gente e tenho uma leve inclinação sexual sado-masoquista.

Pois, está bem. Era bom era. Os nossos piores defeitos, nas entrevistas de emprego (e numa panóplia de outras situações das quais destaco o 1º encontro) são sempre a teimosia e a persistência. Defeitozinhos de trazer por casa, facilmente extrapoláveis para admiráveis qualidades. A determinação e a persuasão.
Havia eu de ser gestora de recursos humanos e seria expulsão ao pontapé de todo o papalvo que me tentasse ludibriar com esta história. Eu preferia com toda a certeza que me dissessem:
- Cozinho muito mal e deixo vincos nas camisas ao passar a ferro;
- Não tenho um pulmão e sou fumador;
- Fico sempre mais 10 minutos na cama e (enquanto espreita disfarçadamente o post-it colado na aba do casaco) sou esquecido;
- Sou guloso e não faço exercício fisco;
- Sou vaidoso e fala-barato;
- Gosto de Tonicha e, com 46 anos, continuo a ir à Queima das Fitas.
(Ok, este último talvez também fosse corrido a pontapé...)

De qualquer forma, eu diria, com toda a convicção: Sou hipocondríaca e não suporto gente sem sentido de humor, i.e. que não ache graça às minhas piadas (a tossicar e com o ar mais sério que me conseguisse impôr).

“Não há bela sem senão...”

Não há nada pior que...

(Até há, mas agora não vem ao caso).

... queimar a língua a provar um cozinhado delicioso antes de um jantar cheio de iguarias. Lá se vai a sensibilidade... mas fica o bom senso.

Ou não.

Sempre ouvi dizer que a almofada é boa conselheira

Pois, eu não acho. Se alguém concordar com esta afirmação, essa pessoa será ainda mais esquizofrénica que eu.
A almofada certa é um dos objectos mais difíceis de comprar. Em 24 anos e meio de vida, nunca encontrei uma almofada à medida. Ou é dura, ou é mole, ou faz barulho, ou é alta, ou é baixa, ou é anatómica e toda a gente sabe que uma almofada anatómica é desaconselhável para quem goste de pôr o braço por baixo dela, ou entalá-la no meio dos joelhos (como eu). E, como se não bastasse é inconstante: quando toca o despertador, onde se meteu a almofada? Ou no chão, ou aos pés da cama, ou encostada à cabeceira.
O único conselho que cada uma das almofadas que tive me deram foi:
“Arranja uma melhor”.

Hoje tenho muito para dizer mas com pouco conteúdo...

... só para avisar.

11 maio 2006

Era uma vez um Fiat que se transformou num BMW

E porque às vezes reflectimos no valor que as nossas coisas têm para nós, principalmente quando alguém quase nos abalroa na auto-estrada, aqui deixo um desabafo.
Podia agora fazer aquela piadinha do "ainda sou do tempo", mas não vou fazer.
Ainda sou do tempo em que com 5 contos enchia 3/4 do depósito do meu Fiat. O que é certo é que "mudam-se os tempos, mudam-se os preços do barril do petróleo" e agora com o mesmo valor (mais cêntimo menos cêntimo, na moeda actual) a minha magnífica viatura nem chega ao meio depósito.
Mas a mim ninguém me engana; tenho para comigo que a razão desta mudança está a acontecer pela simples razão de que, com toda esta história de inovação e desenvolvimento, o motor do meu carro não é mais do que uma experiência científica de aplicação de motores funcionais oriunda de um consórcio entre a Fiat e a BMW.
É isso, o meu Fiat está a transformar-se num BMW.

Dia SIM!

Ao cidadão automobilizado que hoje passou uma rasa ao meu esplêndido Fiat e que depois de entortar o magnífico retrovisor do mesmo, me acenou grotescamente com o dedo médio da mão direita, deixo aqui três conselhos:

- Ainda que o seu rádio vá a destrocar um som fixe, ele não precisa de ser ouvido em toda a área metropolitana adjacente. Por isso, baixe o volume da batida e talvez ouça o motor dos automóveis que o estão, nesse exacto momento, a ultrapassá-lo;

- Endireite-se no assento; para além de se escapar a uma cifose, é possível que tenha um melhor ângulo de visão de quem circula na faixa à sua esquerda. Garanto-lhe que a caixa de velocidades não foge, pelo que não precisa de ir em cima dela.

- Em terceiro, se tiver os dentes da frente cariados, não ria.

Esta última recomendação é geral e não só para o condutor com o dente acinzentado que quase me atirou contra o separador central da auto-estrada, a quem retribuo amistosamente o dito cumprimento.

Haja dias assim... em que escapamos por milímetros a uma tareia com taco de basebol ou, na melhor das hipóteses, ao preenchimento amigável do formulário da companhia de seguros.

06 maio 2006

Ideias Soltas II

O que eu gosto mesmo é de cartas de amor. Gosto de imaginar que a tinta que sai do bico da caneta e se espalha por mais um milímetro de papel à volta, dissemina o sentido da palavra escrita por um espaço superior ao que ela ocupa. Gosto da carta de amor datada, que comece com um epíteto doce e termine sem um post scriputm que demonstre que alguma coisa só foi lembrada à ultima hora. Gosto da carta de amor que surpreende, que faz flutuar o sentimento por entre as vírgulas e no identar de cada parágrafo, que em vez de um chapéu faça ver o elefante dentro da cobra. Gosto de cartas de amor com pontos finais firmes e convictos que combinem na perfeição a continuidade do que se sente. Gosto da ideia de se escreverem cartas de amor ainda que não sejam para ninguém.

(...)

Amo-te em círculos, porque não sei onde começa nem sei onde acaba. Só sei que procuro por ti e acabo sempre por te encontrar cá dentro no sangue, porque te respiro e te sinto como se só isso me bastasse para viver. Mesmo que não estejas comigo, ainda que demores para chegar a casa, eu amo-te, num absurdo contentamento de saber que existes e com uma força imensa de te ver e de te tocar, de voar sobre o teu corpo e aterrar na tua alma.

(...)

Mas um "Marcos loves Vânia 4ever" em spray azul eléctrico num muro branco também tem o seu encanto...

Ideias Soltas I

Certa noite - já lá vão uns anos - sonhei que dizia o seguinte sobre alguém para outro alguém:
- Ao contrário do que teria dito Pessoa: “Primeiro estranha-se e depois entranha-se”, eu senti-me estranha por não estranhar. Aliás, sentia-o cada vez menos estranho e entranhar-se na minha alma, a cada palavra, a cada tamborilar de dedos.
O engraçado é que nunca conheci ninguém que tamborilasse os dedos.

Ideias Soltas (introdução ao (u)tópico)

Existem ideias que simplesmente, num momento não determinado e sem explicação racional, deixam de ter espaço dentro de quem as teve e por isso precisam de passar para fora. Ainda que não sejam reflexas, ainda que não façam sentido, ainda que só tenham sido pensadas uma vez e que a elas não tenha sido feita a prova dos nove, são ideias tão ruidosas e ressoam tão belas quando são pensadas que é quase obrigação de quem as detém deixá-las ir.

04 maio 2006

Incoerência literal

O que eu queria mesmo não era deixar de sentir tédio; era senti-lo de forma que ele não me aborrecesse.

Assim, também eu

O médico hoje disse-me: "O que a BR precisa é de tirar férias e trabalhar menos".

No final da consulta estive quase quase para lhe perguntar: "E quanto é que me deve"?

02 maio 2006

A minha figura de estilo

Olhos existenciais.
Olhos existenciais.
Olhos existenciais.
Eu gostava de ter olhos existenciais.
Como têm as pessoas que não sabem que os têm.
Eu gostava de ter olhos existenciais e nunca ter pensado que gostava de ter olhos existenciais.