22 dezembro 2005
20 dezembro 2005
A istória do Augusto
Ele há cada um!
Mulher em Fúria
Intraduzíveis
Faltam palavras; palavras que não existem e que precisavam de ser inventadas. Palavras que se perdem na tradução de uma língua para outra, palavras que se dissipam de um tempo para o seguinte e que, convertidas em expressões demasiado longas ou irreflectidamente ambíguas, deixam à solta sentimentos, ideias e conceitos.
Um “silêncio estranho ou desconfortável”, o “espaço que existe entre duas pessoas que se amam”, a “ânsia provocada pela antecipação de estar com alguém de quem se gosta”, são expressões que deviam ter uma palavra só para elas, de tão fortes e poderosas que são. Devia também haver um termo intermédio entre “gostar muito” e “amar”...
O que acontece é que sentimentos ficam por explicar, verdades por dizer, significados por atribuir e elogios por fazer, apenas pela razão de que não existe um vocábulo que os capte devidamente, por não existir um termo único que as alcance, envolva e signifique.
Como “serendipity”, a palavra inglesa que vem definida no dicionário como a faculdade de fazer descobertas afortunadas e inesperadas acidentalmente, como a nossa “saudade”, que só tem tradução para o polaco “dor”, e como “altahmam”, a palavra árabe que designa um tipo de tristeza profunda, mas que não chega a ser o estado patológico de depressão. E outras, mil outras que não conhecemos e que concentram nelas toda a força idiomática de uma determinada forma, imagem ou manifestação.
As palavras são a verbalização do que temos dentro; são a transposição para o espaço físico e audível de uma infinidade de sensações que pertencem a outros espaços e dimensões. Falar é entregar a quem ouve tudo aquilo que se guarda.
Por isso escrevo: para dizer que não existem palavras que compreendam algumas (poucas pessoas). Algumas atravessam-nas e outras tocam-nas, mas nenhuma, nem no grau superlativo do seu significado, encerra o esplendor das suas personalidade e a doçura dos seus gestos.