26 março 2006

Homenagem à Vida-de-Todos-os-Dias

Vivam os dias alegres de patetice pegada, de gargalhadas fluorescentes, cor-de-laranja de sol, ou brancos de nuvens.
Hoje, e porque um recente amigo me deu um abanão, vou fazer um tributo à vida simples e satisfeita sem mais preocupações do que as habituais.

E que melhor forma de o fazer senão enumerar os aspectos que ela comporta e me fazem alegrar?

Não necessariamente pela ordem de importância, aqui vão alguns:

Andar descalça;
Cheiro a protector solar;
Edredões;
Dormir muito depois de uma directa;
Tostas com manteiga;
Ir duas vezes à água na mesma tarde de praia;
O filme Lost in Translation;
Banhos de imersão;
Deitar cedo e adormecer tarde;
Camisas de dormir;
Cócegas nos pés;
Jogar cartas;
Croissants mal cozidos e muito doces;
Descobrir dinheiro no bolso de umas calças;
A torrada do meio;
Futebol;
Esplanadas com sol;
Aletria com muita canela;
Conduzir;
Lençóis de flanela;
Ceias de Natal;
Receber correio;
Gelado de doce de leite da Häagen Daaz;
Cantar mesmo sem saber a letra;
Canetas de tinta permanente;
Antúrios verdes;
Gerberas vermelhas;
Biscoitos da Cunha;
Crepes chineses;
Tostas mistas;
Escrever.

07 março 2006

I Had a dream

Sonhei que me perdia e que não tinha voz, não sabia gesticular e não me lembrava do meu nome, nem de onde era ou a quem pertencia. O reflexo do vidro de uma paragem de autocarro mostrou-me que eu não era eu, nem me parecia comigo. Sonhei que era uma estranha, e procurei, dentro do sonho e sabendo que estava a sonhar, saber quem era e por dentro continuava a ser eu, a que sou agora acordada. Um corpo e uma alma, um nó de escolhas e de encruzilhadas mentais, uma equilibrista emocional, uma caixa de memórias e um espírito ávido por entender o que ainda não entendo. No sonho, era infinitamente triste e estava desconcertada por não saber quem era, ainda que subconscientemente soubesse que me bastaria abrir os olhos para me recordar.

Pior do que eu ser e não ser eu, simultaneamente, era a forma como me sentia. Sozinha, num deserto de emoções, num rosto que não era o meu, com braços que não se movimentavam como os meus, com pernas que não obedeciam ao desejo de correr e com um cérebro atrofiado, que não encontrava solução, misturava unidades com grandezas e fórmulas com postulados. Desespero, agonia.

Acordei, por fim, porque tive medo de me esquecer a sério de mim.

E, agora que penso nisso, não é que me ando mesmo a esquecer?

O Multifacetado - Parte II

Aquele meu amigo que dizia que podia ser muita coisa, continua a sonhar. Diz ele que podia ser inventor de títulos para livros, letrista, desenhador (e já agora cartoonista e caricaturista), escultor, toureiro e corrige logo a seguir. “Forcado!”. Os meus favoritos são: avaliador de pessoas (leia-se gajas), motard e sacerdote (ver post Ele há cada um).

Fico com algumas dúvidas: terá ele a pretensão de achar que conseguirira ser tudo isto ao mesmo tempo ou encara estas ocupações de uma forma faseada? E, a ser assim, por que ordem se encarregaria ele daquelas três últimas?