07 março 2006

I Had a dream

Sonhei que me perdia e que não tinha voz, não sabia gesticular e não me lembrava do meu nome, nem de onde era ou a quem pertencia. O reflexo do vidro de uma paragem de autocarro mostrou-me que eu não era eu, nem me parecia comigo. Sonhei que era uma estranha, e procurei, dentro do sonho e sabendo que estava a sonhar, saber quem era e por dentro continuava a ser eu, a que sou agora acordada. Um corpo e uma alma, um nó de escolhas e de encruzilhadas mentais, uma equilibrista emocional, uma caixa de memórias e um espírito ávido por entender o que ainda não entendo. No sonho, era infinitamente triste e estava desconcertada por não saber quem era, ainda que subconscientemente soubesse que me bastaria abrir os olhos para me recordar.

Pior do que eu ser e não ser eu, simultaneamente, era a forma como me sentia. Sozinha, num deserto de emoções, num rosto que não era o meu, com braços que não se movimentavam como os meus, com pernas que não obedeciam ao desejo de correr e com um cérebro atrofiado, que não encontrava solução, misturava unidades com grandezas e fórmulas com postulados. Desespero, agonia.

Acordei, por fim, porque tive medo de me esquecer a sério de mim.

E, agora que penso nisso, não é que me ando mesmo a esquecer?

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Hm... título muito original, estou a ver... como se não bastasse ter de andar a escrever sobre a vida de pessoas próximas, BR ainda plagia...

5:20 da tarde  
Blogger BR said...

Caro(a) Lápis Azul:

Ora, porque aqui não há CENSURA nem gosto de mal-entendidos, aqui vão alguns esclarecimentos:

Eu não "tenho" de andar a escrever sobre a vida de pessoas próximas, eu faço-o porque a vida de cada um (a minha neste caso) é constituída de retalhos da vida dos que lhe (me) são próximos, endogeneizados como se da (minha) própria vida se tratasse.

"I had a dream" é diferente de "I have a dream" (Martin Luther King) e só quer dizer que eu tive um sonho... que fui para a cama, adormeci e sonhei.

Abraço,
BR

12:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"retalhos da vida (...) endogeneizados como se da (minha) própria vida se tratasse"

Muito bonito, sim senhor. Mas, perguntou aos seus amigos se eles querem que ande a escrever sobre eles? Perguntou-lhes se querem que "endogenize" a vida deles? Estou a ver que é uma amiga um pouco absorvente...

Pois... a subtileza de mudar o tempo verbal é muito inteligente, mas não me parece que a livrasse de uma acusação de plágio.

4:26 da tarde  
Blogger BR said...

Olá Lápis Azul!

Não estaria eu a ser egocêntrica se escrevesse apenas acerca de mim mesma? Quanto ao facto de escrever sobre a vida dos meus amigos, não sei o que o levou a pensar isso. o que é possível é que eu tenha deixado escapar "nas entrelinhas" de uma conversa que não escrevo só sobre mim, mas sobre o que me rodeia. Ou ter-se-á revisto no meu post?

Parece-me que está a levar o seu título de Comissão de Censura muito à letra... A menos que o MLK tenha patenteado a frase, julgo poder usá-la quando bem entender no presente, no passado ou no futuro. Por isso, na próxima noite, if (no condicional)I have a dream, amanhã escreverei sobre ele...

Abraço,
BR

4:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estaria, sem dúvida, a ser egocêntrica, se escrevesse só sobre si... mas era melhor do que escrever sobre terceiros num espaço "público" e de acesso livre.

Não tenho particular interesse em censurar textos. Apenas lamento a falta de originalidade...

cumprimentos,
la

5:33 da tarde  
Blogger BR said...

Estimado Lápis Azul:

Não gostaria que lamentasse. Lamentar é lamentável por si só; lamentar a falta de originalidade de outra pessoa porque ela escreve sobre o seu dia-a-dia e dos que lhe são próximos, sem os nomear e fazendo-lhes um tributo tácito é mais lamentável ainda.

Mas eu não lamento! Acho muito bem que cá venha deixar a sua opinião. E se houver algum post em particular que não lhe agrade ou fira a sua sensibilidade, let me know e prometo que farei melhor no futuro.

Já agora, uma pergunta. Se não tem "particular interesse em censurar textos" porque se auto-denomina "Lápis Azul"?

6:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tenho pena (lamento?) que lamente (embora diga o contrário) que eu lamente a sua falta de originalidade, mas não sou insensível. Quando leio um texto, reajo e formo opinião. Mas, para lhe provar que não tenho a intenção de censurar nada, até porque não tenho esse poder, confesso que já gostei mais do seu mais recente post. É honesto, não pretensioso e não versa sobre terceiros.

Porquê Lápis Azul? Porque sou do FCP.

Cumprimentos,

la

9:13 da tarde  
Blogger BR said...

Olá, Lápis Azul

Como isto não é um blog de lamentações (embora por vezes pareça), deixemos de lado as penas.

Gostaria apenas que soubesse que o último post é tão honesto e pretende ser tão (des)pretencioso como o penúltimo; a diferença poderá residir na interpretação que o meu cunho pessoal, de fraco, deixou à consideração de cada um.

Mas ainda bem que gostou!!!

Continue a passar por cá. Pode ser que eu não escreva tantas vezes sobre terceiros, mas sobre segundos, quintos e últimos. E pode ser que no meio de vinte, um post lhe agrade e o faça continuar a cá vir.

Abraço

9:53 da tarde  

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