05 janeiro 2006

Redenção!

Alto! Podem desmobilizar-se as equipas de salvamento. Encontrei-as! As rédeas, quero eu dizer. Estive a arrumar o quarto e elas estavam lá, numa caixa de sapatos, entre cartas, postais e outra papelada. E nem sequer estavam escondidas; estavam pousadas por cima da amálgama de coisas de que se constrói a vida, à espera que eu abrisse a caixa e as visse. Elas sabem que, por vezes, é preciso dar um arranjo à casa, que é como quem diz à alma e separar o que não tem conserto, do que é reciclável e, ainda, daquilo que pensamos que não servia para nada e afinal não serve mesmo. Muitas vezes, é preciso enchermos sacos até cima, de pensamentos inúteis, rancores, frustrações e futilidades, para criar espaço para o que tem verdadeira importância. E, de mansinho, as rédeas entregam-se às nossas mãos, quase como se nunca de lá tivessem saído e começamos de novo a encaminhar a vida para onde queremos que ela se dirija, com percalços e paragens, até, num dia cinzento, esquecermos o guarda-chuva noutro sítio qualquer.

02 janeiro 2006

Dão-se alvíssaras

Um destes dias, senti-me no chão, pisada e dorida, de sono e de murros sem punho. Às vezes, perco as rédeas à vida, como costumo perder o guarda-chuva. Sei exactamente quando e onde foi a última vez que o tinha comigo, mas quando lá volto para o buscar já alguém o levou. Pois se alguém vir as rédeas da minha vida, devolvam-nas que elas fazem-me falta.