06 maio 2006

Ideias Soltas II

O que eu gosto mesmo é de cartas de amor. Gosto de imaginar que a tinta que sai do bico da caneta e se espalha por mais um milímetro de papel à volta, dissemina o sentido da palavra escrita por um espaço superior ao que ela ocupa. Gosto da carta de amor datada, que comece com um epíteto doce e termine sem um post scriputm que demonstre que alguma coisa só foi lembrada à ultima hora. Gosto da carta de amor que surpreende, que faz flutuar o sentimento por entre as vírgulas e no identar de cada parágrafo, que em vez de um chapéu faça ver o elefante dentro da cobra. Gosto de cartas de amor com pontos finais firmes e convictos que combinem na perfeição a continuidade do que se sente. Gosto da ideia de se escreverem cartas de amor ainda que não sejam para ninguém.

(...)

Amo-te em círculos, porque não sei onde começa nem sei onde acaba. Só sei que procuro por ti e acabo sempre por te encontrar cá dentro no sangue, porque te respiro e te sinto como se só isso me bastasse para viver. Mesmo que não estejas comigo, ainda que demores para chegar a casa, eu amo-te, num absurdo contentamento de saber que existes e com uma força imensa de te ver e de te tocar, de voar sobre o teu corpo e aterrar na tua alma.

(...)

Mas um "Marcos loves Vânia 4ever" em spray azul eléctrico num muro branco também tem o seu encanto...

3 Comments:

Blogger rcv said...

Quem entrar no teu blog e ler este post, tambem fica a pensar que andas armada em intelectual... "Olha-me esta, armada em romancista... mais uma Margarida Rebelo Pinto..."

P.S: este comentario nao e uma critica (raramente valida) a escrita, mas sim a facilidade com que se pode julgar, injustamente, os outros

11:33 da manhã  
Blogger CoRtO MaLtEsE said...

No caso da Margarida Rebelo Pinto coloca-se a questão da recorrente utilização do 'Control+C' seguido de 'Control+V'...

Constato com agrado que o RCV não esgota a sua generosidade crítica com os outros.

Quanto às cartas de amor são, de facto, apaixonantes quando a tinta representa o sangue.

BR,
Corto

12:38 da tarde  
Blogger josé alberto lopes said...

curiosa dissertação sobre declarações de amor. o autor da brilhante carta transcrita até pode amar menos a sua amada do que o "artista" da mensagem do spray. pode é ter mais jeito para as palavras. em todo o caso, e respeitando a memória do apaixonante romantismo do filme "Cyrano de Bergerac", as palavras certas no momento certo, envoltas na mais bela poesia, surtem certamente muito mais efeito!

2:48 da tarde  

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