MDF - Mastiga e Deita Fora

Com o passar dos anos, cada vez com menos pachorra para as massas dançantes, transpiradas e colantes das discotecas, dou por mim, qual anciã-intolerante-no-meu-tempo-não-era-nada-disto a torcer o nariz a uma série de ocorrências.

Discoteca Via Rápida, Porto, Sábado à Noite, Noite da Mulher. Uma chusma de meninos de manga caveada e cabelo em crista que pareciam acabadinhos de sair do ecrã da novela da TVI. Uma catrefada de meninas engraçadas com cabelinhos lisos, calções muito curtos e saltos muito altos. Um cheirinho a sovaco misturado com after-shave dos 300 e uns passos de dança congéneres à dança do papa-formigas muito na moda há uns anos. Todos abanavam o corpinho ao som de um funk poli-traumatizante.

O senhor Mc Leozinho cantava:

Se ela dança eu danço

Se ela dança eu danço

Se ela dança eu danço

Falei com Dj

Pra fazer diferente

botar chapa quente pra gente dançar…

Era vê-los a olhar uns para os outros por entre as mechas de cabelo de gel derretido pelo calor com olhinhos de book fotográfico. Até me vieram as lágrimas aos olhos… por causa do fumo do tabaco.

E parti, antes que aquecesse o lugar. Uma semana depois, noutro sítio, recuperei a fé nas gentes e, contraditoriamente, cantei em plenos pumões:

E como tudo o que é coisa que promete

A gente vê como uma chiclete

Que se prova, mastiga e deita fora, sem demora

Como esta música é produto acabado

Da sociedade de consumo imediato

Como tudo o que se promete nesta vida, chiclete

Chiclete, aua aua aua aua aua ah!aua aua aua aua aua ah! CHICLETE