17 abril 2006

Vou para o inferno, de certezinha!

Estou no Centro de Saúde, à espera de vez, maldito caroço que me tem tirado o sono, e cheira-se um cheiro que nem chega a ser o de hospital porque é de éter misturado com soro, mas falta-lhe a fragância da sopa de nabo.

Uma mulher, sentada ou pouco mais perto da porta, vai escarrando para o lenço enquanto o marido, ao lado, dá umas trincas cuidadosas (não vá a placa ficar agarrada) numa sandes de presunto. Já cá estavam quando eu cheguei; aliás, têm ar de quem já cá estão há uns dias.

Estão mais pessoas com ar doente, deve ser um nodulozito sem importância, não penses nisso, sentadas nos bancos azuis inaugurados pelo presidente da junta na semana passada. E eu não me consigo concentrar no livro. Em vez disso, miro as indefiníveis. As indefiníveis (porque ainda não arranjei palavra que me apeteça chamar-lhes) estão sentadas na beirinha dos bancos e falam alto aquela voz nasalada das “amigas das mães”. São loiras bem tingidas e bem vestidas e mugem uma para a outra:

Indefinível 1: Como é possível?
Indefinível 2: Não sei.
Indefinível 1(revirando os olhos): Não entendo como é possível que ainda existam pessoas a insistirem em pronunciar Chelsea em vez de Chelsee...
Indefinível 2: Falta de ouvido, minha querida.
Indefinível 1: Falta de educação, isso sim. Está um cheiro esquisito, não está?
Indefinível 2 (enojada): Está, está. É este sítio.
Indefinível 1: O Kikas deve estar quase a sair. (Suspira).
Indefinível 2 (afundando-se um pouco no banco): Então não vês? Ainda tem esta gente toda para atender.
Indefinível 1: Então passa aí o vaporizador.
Indefinível 2 (procura no necessaire dourado um frasquinho de perfume que passa à outra).
Indefinível 1(vaporiza 3 vezes o Donna Karan para o ar em torno das duas e volta à cara de enfado).

Ainda penso se me levanto e lhes tusso para cima. Que porra de caroço que parece que cresce. Ou se a senhora que cospe para o lenço se engana no alvo... Mas não; só rogo pragas silenciosas...

I’m gonna go to hell when I die”!